Desrespeito à memória

Não acordei hoje achando que seria um dia ruim, tão pouco o que direi nas próximas mal ou bem traçadas linhas dizem algo a meu respeito ou a experiências vividas por mim no presente momento. Apenas, as descrevo porque observo e, eventualmente, sinto as dores e desamores dos meus “objetos” de estudo e não consigo me conter ou segurar as palavras. Resumindo e sem mais rodeios, eu acredito que o sentimento de ser substituído é muito pior do que o ódio que assola e destrói vidas.

É claro que não estou desmerecendo o ódio propriamente dito. Assumo com todas as letras que é realmente um sentimento horrível e, de fato, se encontra entre os piores que assolam a humanidade. Mas, penso mesmo que as emoções vividas no momento em que nos sentimos substituídos, trocados, é de uma dor ainda maior.

Dizendo desta forma até parece que existem escalas capazes de medir as dores de um sentimento. Quem dera! Assim, poderíamos comparar os nossos próprios sofrimentos com os alheios e medir qual deles é digno de mais pena ou compaixão. Mas, isto é outro assunto e não se trata disto! A questão é que quando tudo o que somos e fazemos deixa de ser suficiente para outro alguém, o mundo parece desabar.

Quando uma pessoa resolve nos substituir como se fôssemos um vaso barato que se espatifou ao chão ou um enfeite de mesa que já parece gasto demais, nos sentimos como os referidos lixos, nada mais do que isto. É como se o ato de fazer outra pessoa ocupar o lugar que era nosso fosse um desrespeito a nossa memória, mesmo que essa atitude seja totalmente compreensível dentro daquele dito que diz que a Terra não para de girar, que a fila anda, ou qualquer outra frase que queira dizer que a vida sempre continua seguindo independentemente de em quantas partes o seu coração se partiu.

Se sentir substituído é o que há de pior, talvez não para a humanidade como um todo como o que acontece com o sentimento do ódio. Mas, certamente, para os nossos respectivos mundos que já não são o bastante para outro alguém que, às vezes, até mais do que de repente, encontrou um ornamento melhor para a sua vida.

(Jennifer Hudson – No one gonna love you)